No dia 16 de janeiro, deste ano, completei 71 anos de idade. Às vezes me pego rindo por ter chegado tão longe. Confesso que houve momentos de eu achar que não atingiria esta idade. Não sei porque cheguei a pensar nisso.
Ainda bem que não consigo ver o ponto de chegada, ou melhor, o ponto de partida, mas dá pra sentir que já estou quase chegando nele. Não que eu seja pessimista, drástico ou coisa parecida. Sou apenas realista e torço para que o dia de partir ainda esteja distante. De qualquer forma, convivo muito bem com essas questões de morte, até porque tenho convicção de que ela não existe.
Guardo muito bem em minhas lembranças, que há 71 anos comecei minha vida em Santarém. Depois que passei a entender as histórias que me contavam sobre mim, gravei-as na memória para sempre.
Não posso dizer que tive uma vida intensa. Vivi o bastante e aproveitei bem as situações que me surgiram ao longo de minha existência. E a cada obstáculo, adversidade que deparava pelo caminho, tomava como um aprendizado. Tive bons professores na escola da vida. Minha família me ensinou muito, do jeito deles, claro, mas foram boas lições. Os amigos e amigas também me deram boas aulas. Aprendi até com aquelas pessoas que não gostavam de mim.
Fiz algumas coisas ao longo de minha vida, não muitas, mas todas as considero importante, mesmo aquelas que parecem bobas. Construí uma família, plantei muitas árvores, fiz boas amizades e escrevi livros. Decerto que deixei muita coisa por fazer, mas isso já é passado, não tenho como recuperar. Ficará para uma outra oportunidade, se assim eu o merecer.
Aprendi que a única certeza que temos na vida é que cada um de nós tem seu dia pré-determinado de partir e tratei logo de aprender a lidar com isso. Fomos beneficiados por não saber dessa data e deveríamos agradecer por isso. Sigo algumas regras elementares do bem viver, tais como: fazer exercícios, comer saudavelmente, ler, escrever, desfrutar de boas companhias e não se estressar com a estupidez dos outros.
Não adianta tentar prolongar o dia de deixarmos este planeta com artifícios estapafúrdios porque isso é bobagem e perda de tempo. Mas tem gente que inventa produtos com esse fim para enganar os desavisados e o pior é que vendem muito.
Uma das lições mais importantes que a vida me ensinou foi de que não preciso de muito para viver. Demorei para aprender isso, mas aprendi. Não levarei nada de bens materiais na minha viagem derradeira. “Leva-se dessa vida apenas a vida que se levou” – ditado muito antigo. Carregarei na “mala” as lições aprendidas e uma lista do que ainda devo aprender e do que deixei de fazer. Olha que a lista é grande.
Fiz ao longo de minha jornada, alguns amigos e amigas que fui deixando pelo caminho, mas esse “deixar” é simples força de expressão, porque sempre os carrego comigo, guardados num lugar especial do meu coração. E sempre há lugar para mais um ou mais uma.
Não fiz inimigos, não lembro de algum. Desavenças? Houveram muitas e todas me serviram de lição. Jamais guardei rancor de alguém, apenas me afasto e deixo-os seguir seu caminho. Respeito suas escolhas e, quando tenho certeza de que alguma dessas escolhas trará consequências ruim, oro por eles.
Creio piamente numa Lei da Natureza de que para cada ação que se faz há uma reação de força igual em sentido contrário. Essa lei é imutável e Constituição nenhuma do mundo poderá mudá-la. Acredito fervorosamente, também em outra regra de que só se colhe aquilo que se planta. Isso é muito simples e verdadeiro. Não há o que questionar. A semeadura é opcional, mas a colheita é obrigatória.
Portanto, hoje são setenta e um anos. Depois, setenta e dois e assim por diante. Não sei até onde vai essa contagem. Como diz o caboclo de Santarém – Vai que eu chegue aos cem!
Para todas e todos que um dia nos deparamos nesta encarnação, Beijos.
Edu Mussi
2 comentários em “CHEGUEI AOS 71 ANOS”
Feliz aniversário, grande Edu! Seus textos trazem muitos aprendizados e reflexões!! Que seu novo ciclo seja lindo, assim como você é
Muito obrigado, querida Siomara.
Você é um anjo que encontrei pelo caminho e me deixou muito feliz.
Beijo